segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Política e Espiritismo

Um dos modos com que os Espíritas podem perturbar a marcha
do Espiritismo, segundo o benfeitor espiritual André Luiz,
no livro Opinião Espírita, é especular com a Doutrina em matéria
política, ou seja, tirar proveito pessoal desse envolvimento.
Eis porque os adeptos do Espiritismo, na defesa dos interesses
do Movimento Espírita, não precisam eleger parlamentares para o
Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas Estaduais
e as Câmaras Municipais de todo o país.

É importante lembrar que Jesus, o nosso guia e modelo,
jamais buscou o poder político para divulgar e implantar
os seus ensinamentos. O Mestre, quando esteve entre nós,
atendeu antes de tudo aos interesses do Pai Celestial junto ao
coração humano, sem que para isso necessitasse de portarias
ou decretos. Os discípulos sinceros de Jesus não necessitam
de cargos eletivos na política para cumprir sua missão neste mundo.

NÃO HÁ CANDIDATOS ESPÍRITAS

Se por um lado não existem candidatos espíritas, por outro
nada impede que qualquer cidadão Espírita que se orienta
pelas obras codificadas por Allan Kardec, postule um cargo
eletivo. Mas, em hipótese alguma, ele tem delegação do
Movimento Espírita para falar em nome dos Espíritas.

Sendo assim, os Espiritistas não fazem acordos ou conchavos
políticos, pois não dependem de verbas e nem do poder transitório
do mundo para manter suas atividades religiosas e assistenciais.
Do ponto de vista dos ensinamentos da Doutrina Espírita, não se
deve fazer proselitismo religioso, isto é, impor sua religião a outrem,
mas sim expor os conceitos espíritas, assim como também não
se deve fazer proselitismo político à custa da religião.

Queremos frisar que os Espíritas, mantendo essa clara e definida
posição, previnem-se contra o erro cometido por Judas. Devido
à sua ambição política, ele acabou levando o Cristo a morrer na cruz,
a pretexto de acelerar a vitória do Evangelho. É por essa razão que
os Espíritas não se desviarão do ideal delineado por Allan Kardec:
levar ao torturado coração humano a mensagem de esperança
e de luz do Espiritismo, o Consolador prometido por Jesus.

A ESCOLHA DOS CANDIDATOS

O Espírita, como todo e qualquer cidadão brasileiro, é livre
para escolher o seu candidato e votar em quem desejar.
É claro que, consciente da sua responsabilidade, ele não
escolherá os candidatos que defendam o aborto, a pena
de morte, a eutanásia ou a liberação das drogas.
E também não escolherá os que vivam da corrupção, pois tudo i
sso contraria os princípios morais estabelecidos pelo Espiritismo.

Desejamos esclarecer que não há, no Movimento Espírita,
nenhuma intenção de formar bancadas nos parlamentos, para
não desvirtuar a verdadeira finalidade do Espiritismo, qual seja:
a transformação moral da humanidade. O seu programa é de
ordem educativa, moral e intelectual, desatrelado totalmente
da política partidária, uma vez que ela não é de competência
do Espiritismo e, a bem da verdade, não é de competência
de nenhuma das religiões existentes. A Filosofia Espírita
permite a atuação dos Espíritas no sentido de promover
a organização social ideal através da educação.

O PERIGO DO ESTADO TEOCRÁTICO

Como cidadão brasileiro, entendo que é necessário
consolidar o estado democrático em nosso país, preservando-se
uma vez mais a condição de estado laico. O laicismo começou
a ser adotado primeiro no campo da Filosofia, e depois no campo
da Ciência. Por extensão, o princípio do laicismo passou a ser
também aplicado à Política, confundindo-se com o chamado
liberalismo político, cujos princípios devem prevalecer numa
sociedade verdadeiramente democrática.

O Liberalismo Político é a doutrina que visa estabelecer
a liberdade política do indivíduo em relação ao Estado,
porque defende os direitos inatos do homem; preconiza
oportunidades iguais para todos; estabelece a separação
entre Igreja e Estado; exige que a atividade estatal se
restrinja à proteção das liberdades religiosa e de imprensa
(direito de expressão), assim como assegura o direito de
propriedade individual (propriedade privada). Tais são as
características de um Estado democrático.

Por isso mesmo, precisamos evitar todas as formas
possíveis de estabelecimento de um governo teocrático,
administrado por religiosos, para não retroagirmos
à Idade Média. Se tal fato acontecer, a democracia
“irá para o espaço, em nome de Deus”, como ocorreu
no Afeganistão sob a liderança religiosa dos Talibãs.
Essa é a razão de não ser nada saudável colocar Deus
no centro da política, como justificativa para se cometer
uma série de arbitrariedades em nome Dele, lembrando
o que já disse certa feita: “Deus nunca subiu nos
palanques políticos”.

CONDUTA ESPÍRITA E POLÍTICA

Por ser oportuno, lembramos que o documento
ORIENTAÇÃO ESPÍRITA, editado pelo Conselho
Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira,
traça, nas suas Recomendações de Ordem Geral,
diretrizes quanto ao comportamento dos Espíritas
em face dos eventos políticos, com base na orientação
dada pelo benfeitor espiritual André Luiz, na obra Conduta
Espírita. As diretrizes, entre outras, são as seguintes:

- “Impedir palestras e discussões de ordem política
nas sedes das instituições doutrinárias, não olvidando
que o serviço da evangelização é tarefa essencial;

- Não comerciar com o voto dos companheiros de ideal,
sobre quem a sua palavra ou cooperação possam exercer
alguma influência. A fé nunca será produto para
mercado humano;

- Em nenhuma oportunidade, transformar
a Tribuna Espírita em palanque de propaganda
política, nem mesmo com sutilezas comovedoras
em nome da caridade. O despistamento favorece
a dominação do mal”.


GERSON SIMÕES MONTEIRO
Presidente da Fundação Cristã-Espírita
Cultural Paulo de Tarso Operadora
da Rádio Rio de Janeiro (1400 KHz AM)

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