segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Finados no México

Ernesto Arosio


Logotipo de uma campanha do Centro
Cultural Aztlan

o México, o dia dos finados é um dia especial nas tradições populares. Misturando formas de devoções de origem cristã com ritos centenários das antigas culturas, o povo criou uma comemoração única no mundo, uma maneira alegre e feliz, quase irônica, de contato com seus antepassados. Alguns turistas até batizaram esse dia como o “carnaval dos mortos”. De fato, podem existir excessos e abusos nas comemorações do dia, mas, no seu mais profundo significado, é para o povo se sentir, neste dia, perto dos parentes falecidos, na alegria do convívio, desmistificando a morte e os fantasmas que assustam tantas outras culturas ocidentais.

A festividade começa no dia primeiro de novembro. Nas casas, preparam-se as oferendas sobre mesas enfeitadas com aquilo que de melhor se possui:

- toalhas bordadas, velas, flores, incenso, comidas e bebidas. Confeccionam-se as tradicionais caveiras de chocolate em cores fortes e, com o pão, modelam-se ossos humanos e alegres e coloridos esqueletos que, como verdadeiras marionetes, podem imitar as danças. Os esqueletos femininos são enfeitados com perucas e batom. Sobre o altar, além das imagens da Virgem de Guadalupe e de santos, há fotos, instrumentos de trabalhos e de diversão dos falecidos. Parentes e amigos passam de casa em casa entretendo-se em longas conversas, comendo e bebendo. Outros altares são preparados nas igrejas e nos cemitérios.

Grandes cruzes, feitas de flores amarelas – a cor da morte –, ladeiam as ruas no caminho ao campo-santo. No dia 2, data dedicada à lembrança dos finados, bem de manhã, todos se encaminham aos cemitérios, levando flores e alimentos em clima de alegria e de camaradagem. Não há choro nem sinais de luto, mas somente de festa e alegria. O povo vai ao cemitério para ficar em companhia dos mortos, como se estes estivessem vivos e participassem da comemoração. Sobre os túmulos se reza, come-se, bebe-se e se festeja. A morte não assusta e o cemitério se transforma numa grande praça de alegria com cantos, música e danças.

As crianças brincam livremente entre as tumbas, os vendedores ambulantes oferecem sua mercadoria e muito algodão doce. Neste dia, a prioridade não é a oração de sufrágio, mas a alegria de se sentir bem próximo dos parentes falecidos. De tarde, no lugar central do cemitério, debaixo de uma cobertura enfeitada, reza-se a Missa. Carnaval?! Talvez! Mas tais tradições populares e festivas existem para humanizar a morte e para conviver com ela como um acontecimento natural da vida. O povo olha para ela até com simpatia, sem perder o sentido da fé na vida futura.

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