segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"Espiritês”, e não mais o português?

por Jayme Lobato

Mauro e Celina, casados há quinze anos, são adeptos do Espiritismo.
Aproveitando momento propício, Celina toca num assunto que a vinha incomodando:



– Mauro, atualmente, você só conversa sobre Espiritismo!
– Mas, Celina, conversar sobre Espiritismo não é importante?!
– Claro que é, marido, porém no momento apropriado. E tem mais: você só tem li
do obras espíritas!
– Há algum mal nisso, querida?
– É que esse seu comportamento está me parecendo sintoma de desequilíbrio.
– Que é isso, Celina!
– É isso mesmo. Você me p
arece um tanto fanatizado, e isso é desequilíbrio.
– Mas, querida, o Espiritismo é a Terceira Revelação e, por isso, mu
ito importante para todos nós.
– Eu sei disso, meu bem!
– Entendo o Espiritismo como a doutrina redentora, que nos possibilita o prog
resso espiritual.

E Celina investe contra o comportamento de Mauro:

– Conheço a Doutrina Espírita, meu bem, desde muito cedo, pois, como você sabe, nasci em lar espírita.
– Estou certo, querida, de q
ue você tem conhecimento espírita.
– Porém, Mauro, não restrinjo minha vida em
somente falar de Espiritismo e ler obras espíritas.
– Pois saiba, Celina, que conversar sobre Espiritismo e ler obras espíritas me satisfazem sobremaneira. Aprendo muito, querida!
– Reflita seriamente no que lhe estou dizendo, Mauro!
– Ora, querida! Tenho feito o que me dá prazer.
– Mas, nem jornal, Mauro, você quer mais ler!
– Os jornais só trazem más notícias.
– Não se esqueça, Mauro, de que precisamos estar a par do que acontece na nossa cidade, no país e no mundo.

E Celina prossegue:


– Você, que gostava tanto dos escritores nacionais contemporâneos, está totalmente divorciado de nossa literatura, rica de boas obras.
– Atualmente, Celina, o Espiritismo me tem bastado.
– Mauro, querido! O Espiritismo nos fornece os referenciais que devemos utilizar na relação conosco mesmo e com a sociedade.

– Claro, querida!
– Mas, você não vem mais fazendo isso.
E ela complementa:
– A pretexto de aprender e praticar o Espiritismo, não acho válido se esquivar da vida, nos seus diversos aspectos.

– Não posso entender esse seu posicionamento, querida, pois você também lê obras espíritas.
– Não só as leio como também converso sobre Espiritismo.
– Então, por que a censura ao que venho fazendo?
– Só, meu caro, que procuro ser conveniente.
– Em que sentido?
– Venho buscando, constantemente, n
a Doutrina Espírita os balizadores para o meu caminho, ou seja, tenho procurado vivenciar os conceitos doutrinários.

Aí, Mauro se inquieta:

– E eu, você acha que não vivencio esses conceitos?
– É sempre, querido, aquela questão da fé sem
obras.
– É assim mesmo que você me vê?

– É assim que você tem se mostrado, Mauro.

Celina continua:

– Você só lê livros espíritas, só conve
rsa sobre Espiritismo, porém suas atitudes, no meu entender, estão deixando muito a desejar. Você, que foi sempre muito atencioso com a família, ultimamente, está pisando na bola.
– Que é isso, Celina?!
– É isso mesmo, Mauro. A religião está servindo de escudo para você se esconder das lutas humanas, que nos aferem o valor e nos ajudam a crescer.

Mauro, então, se agasta:

– Do jeito que você fala, parece que sou um irresponsável.
– Tá quase chegando lá, querido.
– Você, agora, me assustou, meu bem.
– Isso é ótimo!
– Como ótimo, Celina?!

– Pior é se você não tivesse se tocado.

Mauro começa a entender a mensagem de sua esposa.

– Bem, Celina! E, agora, então, o que fazer?
– Só você poderá mudar essa situação, querido.
– É! Não há dúvida.
– Veja bem, Mauro, estamos perdendo nossos melhores amigos não espíritas, pois você só quer falar de Espiritismo.
– Preciso reverter isso.
– Temos ótimos amigos, adeptos de outras crenças, pessoas de bem, que muito acrescentaram em nossas experiências de vida. E eles nos estão evitando, justamente por essa sua postura fanática.
– É! Isso vem acontecendo. Quando não sou eu mesmo quem os evito.
– De tanto falar somente de Espiritis
mo e de conversar só com espíritas, daqui a pouco você estará falando o “espiritês”, e não mais o português.
– Não entendi!
– Ora, Mauro! O Espiritismo tem seu vocabulário próprio, que cabe muito bem na conversa entre espíritas. Porém, os não espíritas não têm obrigação de conhecer esse vocabulário.
– E, então, a conversa passa a se tornar
enfadonha, não é mesmo?!
– Justamente! E, aí, o pessoal foge.
– Preciso de sua ajuda, Celina, para me modificar, pois estou reconhecendo o fundamento de suas palavras.
– Estamos num mesmo barco, querido, em que um ajuda o outro a colocá-lo a navegar rumo ao norte do esclarecimento.
– Já consigo perceber que, contrariando os próprios ensinamentos doutrinários, criei um mundo especial, ilusório, só para mim.
– Que ótimo, marido!
– Infelizmente, parti para isolamento injustificável, deixando de participar da vida, de enriquecer-me com as experiências do cotidiano, da família, da sociedade.
– A pretexto de espiritualização, M
auro, não podemos deixar de participar da vida cultural de nossa cidade. Tantos lugares bonitos para visitar! Peças teatrais, inclusive espíritas, para se apreciar!

E Celina ainda comenta:

– Há filmes interessantes em cartaz, com denúncias e mensagens importantes para nossa reflexão. Aliás, no que diz r
espeito a cinema, a indústria nacional está sendo reverenciada, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
– Equivoquei-me, querida! Vinha distorcendo a finalidade. tanto do Espiritismo quanto do livro espírita.
– Ambos são importantíssimos em nossas vidas, marido, desde que os utilizemos para nos tornar seres humanos melhores, mais esclarecidos, mais participativos, mais responsáveis no caminhar.
– Estou entendendo agora, Celina, que o Espiritismo não é somente um p
rocesso cultural, mas, em especial, uma nova leitura da religião e, em conseqüência, da Vida.


E, assim, amigos, atentemos para o que diz a questão 766 de O Livro dos Espíritos: “Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação”. E, da questão 768 consta o seguinte: “O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades: precisa do contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se estiola.”

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O Espiritismo é uma beleza, é bom ser espírita, o movimento espírita coerente é gostoso e é bom de se conviver, mas tem, ainda, muita gente assim, mas muita gente mesmo, e torna-se importante que o movimento trabalhe bem esta questão, pra ver se dá uma conscientização mais coerente àqueles que estão em nosso meio. Eu sempre falei na existência de "O Espiritismo à moda da casa", que é aquilo que faz com que determinadas pessoas fundem um centro espírita, ou herdam algum que já existe há algumas décadas, que adota a pratica de um "espiritismo" conforme a sua cabeça, o seu entendimento e a sua interpretação. Da mesma forma, acontece de muitos freqüentadores, ou trabalhadores, de casas espíritas também criarem um tipo de entendimento e daí o vivenciarem como se fosse o comportamento ideal. É em conseqüência disto que você vê centros espíritas que obrigam as pessoas a se vestirem de branco, outros que determinam que homens devem se sentar do lado direito e mulheres do lado esquerdo, pessoas que devem tirar o sapato para tomar passe, virar as palmas das mãos para cima para receber o passe, médiuns que só recebem espíritos pelo nariz (incorporam o espírito Afrin e o espírito Aturgyl), proibições de sorrir na casa espírita, homem não pode entrar de bermudas no centro (mulher pode), etc... As pessoas, por sua vez, adotam comportamentos como se quisessem dizer pra todo mundo: "Olhe aqui! Eu sou espírita, viu?" , é quando você nota coisas do tipo:
- Oi, Neuza, como vai você, amiga?

- "Oi, minha irmã, eu estou melhor do que mereço".

- Neuza, querida, esse corte de cabelo ficou muito bonito em você, adorei.

- "Que nada, são seus olhos".

- "Olhe Neuza, o pessoal está pensand
o em indicar você para representar a empresa naquele evento maravilhoso que vai ter lá no centro de convenções. Estão dizendo que vai ser muito chique".

- "É bondade deles, eu não tenho competência nenhuma, tem muita gente melhor do que eu que poderia representar a empresa".

- "Parabéns, doutor Cláudio, o senhor é um dos grandes cardiologistas do nosso estado."

- "Que nada, eu não passo de um analfabeto, é bondade sua".

Na cabeça dessas pessoas, elas estão praticando a Humildade, quando na realidade estão vivendo o que talvez possamos chamar de um tremendo exibicionismo ou mesmo uma palhaçada. Será que a Neuza iria para um salão, fazer um corte em seu cabelo, que não fos
se para ficar bonito? Alguém consegue pedir a um cabeleireiro para que faça um corte bem horrível, em seu cabelo, sob a argumentação de que é humilde? O doutor Cláudio fez o primeiro grau, fez o segundo grau, concluiu uma faculdade, residência médica, se especializou em Cardiologia, consegue desempenhar bem a sua profissão e de repente vem querer dizer que não passa de um analfabeto? Espírita chato é tão inconveniente quanto crente chato. A onda de quererem falar com o tom de voz que o Chico Xavier adotava é algo impressionante. Outros querem fazer palestras forçando a barra para imitar o Divaldo, o que não é a mesma coisa daqueles que, de fato, tem um estilo parecido com o do nosso maior palestrante. Neste momento, que estamos acompanhando os noticiários falando do terrível acidente com o avião da Air France, é também impressionante a quantidade de e-mails que trafegam "explicando" o porquê do acidente: "as mortes coletivas acontecem, porque todos estavam numa arena romana e queimaram muitos cristãos". Gente. Porque o Chico Xavier falou isto, no início da década de sessenta, quando do incêndio do circo em Niterói, identificando os desencarnados como os mesmos que estavam em Roma, será que todo caso de desencarnação coletiva tem quer ser exatamente a mesma coisa? Os mortos do desabamento das torres gêmeas estavam na arena romana, os que são vítimas de terremotos também, os do avião da Gol também, os do avião da TAM também, estes do avião da AIR FRANCE também... Uai, quantos milhões de pessoas cabiam naquela arena romana?

Os conselhos que recebo dos espíritas bonzinhos


Alguns amigos meus relatam-me que no centro espírita onde freqüentam tem algumas pessoas que dizem:

- "Eu não gosto do Alamar, porque ele é muito agressivo".

No fundo, tenho a impressão de que estão querendo dizer:

- "Eu não gosto do Alamar, porque ele se recusa a se fingir de humilde, não admite se apresentar como bonzinho, para impressionar os outros, não se acha mais espírita do que Kardec e nem se comporta como se já vivesse vizinho ao Clarêncio, no Ministério da União Divina".

Invariavelmente recebo e-mails, muito "fraternos", com uma "bondade" impressionante, mais ou menos assim:

- "Alamar, você poderia ter dito as mesmas coisas utilizando outras palavras".

Será que o importante é a grafia da palavra ou o sentimento espiritual carregado na intenção?

- "Você pega muito pesado com o movimento espírita".
O relevante é fingir que não está vendo nada e dourar a pílula, escondendo o lixo sob o tapete, deixando as feridas se agravarem e contaminarem, sem qualquer tratamento, até se transformarem num câncer terminal. Depois que morre é muito fácil explicar que já cumpriu a sua missão e que desencarnou porque chegou a sua hora. Na verdade, muitas pessoas desencarnam é por causa da omissão, do comodismo, da frieza e da indiferença de muita gente. Outros se incomodam porque eu escrevo sobre assuntos do dia-a-dia de todas as pessoas, independentemente de serem espíritas ou não. Alguns leitores que eu já tive, há algum tempo, pediram para que eu retirasse os seus e-mails da minha lista de amigos, sob a argumentação de que "você resolveu se enveredar por outros caminhos". Esse enveredar por outros caminhos é porque eu escrevo, também, falando da sordidez da nossa política, falando do comportamental humano comum, quando faço aquela campanha contra o mau caratismo, que é uma realidade em todas as épocas da humanidade. São espíritas que parece que estão acima do bem e do mal, que não são atingidos por causa da corrupção, dos desvios políticos, da exploração dos bancos, das malandragens dos planos de saúde, etc... parecendo que, toda vez que um membro da família adoece, recebem a visita do Dr. Bezerra de Menezes, que faz o tratamento espiritual automaticamente, com aplicação de exames de graça, remédio de graça, enfim... tudo de graça. Exatamente dentro do tema desta mensagem que anexei a este e-mail, naquele perfil como o Mauro, que só fala sobre espiritismo, só conversa sobre espiritismo, só lê livros espíritas, faz da sala, do quarto e da cozinha da sua casa um centro espírita e por aí vai.
Comportar-se diariamente, nas 24 horas de cada dia, coerentemente com os princípios morais ensinados pela doutrina espírita é dever de todo espírita, mas teatralizar comportamento, como se estivesse as 24 horas dentro do centro, é sinal de desequilíbrio.
Gente, conviver com espíritas é uma beleza, mas com espírita chato é a mesma coisa que testemunha de Jeová bem carola. Ao contrário do que muita gente imagina, Divaldo Franco, espírita atuante há mais de 50 anos, quando visita as cidades, tem o maior prazer em ir ao centro espírita ou ao auditório, mesmo não espírita, para fazer a sua palestra e falar sobre Espiritismo, mas quando está no convívio dos confrades que o recepcionam, nos jantares, nos almoços e nos lanches, ele gosta de falar das coisas normais do dia-a-dia, adora conversar sobre cinema porque é, também, uma grande cultura em cinema, gosta de dar gargalhadas, falar sobre música e sobre tudo. Divaldo é, naturalmente, uma pessoa de bom humor e alto astral. A mesma coisa é o José Raul Teixeira. Falar no Raul, vocês sabiam que ele canta? Pois é, quando receber o Raul na sua casa, deixem o microfone do Karaokê no ponto que o nosso doutor pode dar um recado muito bem afinado, com sustenidos, bemóis e bequadros muito bem aplicados. Aí tem gente que, quando hospeda o Divaldo ou o Raul, retira as crianças de casa e manda para a casa da Avó, bota um CD para tocar a Ave Maria de Gounod o tempo inteiro, bem baixinho, para "harmonizar bem" o ambiente, e fica cheia de sofismas achando que aquilo os faz muito felizes e a vontade. Será que agrada? Outros aproveitam para pedir notícias de parentes desencarnados, como se eles tivessem um celular fluídico que poderia ligar para o mundo espiritual e saber notícia de todo mundo. Precisamos de muitas Celinas para chamar a atenção de muitos Mauros que existem por aí. O artigo é muito bem e merece ser copiado e afixado nas paredes de muitos centros, principalmente para muitos trabalhadores da casa.

Abração, Gente!

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