quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Pelo Espiritismo em todos os ritmos e cores


Com todo o respeito a quem não goste de rock (seja de que tipo for), funk, pagode, música clássica, música sertaneja etc... Considero expressões como “esse ritmo é menos evoluído” ou “esse ritmo é desarmonioso” sempre como uma manifestação de exclusivismo, preconceito ou ostracismo cultural. Ainda que inconsciente!

Tais expressões também se assemelham a uma “medo” religioso infantil, que não cabe no Espiritismo. Coisas que em outras religiões são ditas assim: “o rock é coisa do diabo” ou “esse ritmo não agrada a Deus”... como se soubéssemos realmente qual o ritmo que Deus mais gosta de ouvir...

Analisando mais profundamente tais “medos”, percebe-se claramente a intenção de UNIFORMIZAÇÃO de estilo.

Ôpa! O que houve com o velho lema espírita: “UNIFICAÇÃO SIM! UNIFORMIZAÇÃO NÃO!”?

O que o Espiritismo prega é a união e não a uniformização no movimento espírita (o que inclui o movimento artístico espírita).

Seria algo como dizer: no movimento artístico espírita só se pode usar as cores branca e azul, pois as cores vermelha, verde, amarela e preta são cores inferiores, que sugerem sentimentos e expressões mais baixas. Pintar um quadro com essas cores não pode ser arte espírita!

Seria também como legislar assim: no movimento artístico espírita só se pode usar o compasso 4/4, com batidas de no máximo 60 bpm, sem uso de bateria ou guitarra elétrica. Qualquer música que fuja disso não é arte espírita!

Seria também como dizer assim: o evangelho e os princípios espíritas só devem ser traduzidos e ensinados no inglês, no português e no espanhol, pois o alemão, o francês e o japonês são línguas grotescas, pouco harmoniosas.

Caramba! Deus queira que não cheguemos a isso...

No Evangelho não encontramos que a Boa Nova deve ser pregada a todos os povos e em todas as línguas?

Então deve ele ser pregado também em todas as cores, ritmos, sons e estilos.

Querer que seja em apenas um estilo é cometer os mesmos erros dos primeiros apóstolos que não queriam pregar o Evangelho aos gentios.

Já dizia uma música do GAN: “A malandro velho se ensina o Evangelho é com samba-canção”.

Pela observação da Natureza, podemos também dizer que todas as cores estão na Natureza. Então, todas as cores vêm de Deus.

Assim também percebemos que todos os ritmos estão na Natureza. Então, todos os ritmos vêm de Deus.

E todas as cores e todos os ritmos são necessários para o ciclo da vida.

Já pensou se na Natureza tivéssemos apenas as cores branca e azul?

Se o Universo seguisse em apenas um ritmo, sem as tormentas ou calmarias, sem a brisa ou sem o tufão, sem as explosões ou o congelamento... simplesmente não seguiria...

O ciclo variável é essencial. Uma hora a agitação. Outra hora a calmaria.

O que é importante é saber em que momento cada ritmo deve ser utilizado.

Se é momento de agitação, é hora de um ritmo mais agitado.

Se é momento de calmaria, é hora de um ritmo mais calmo.

É o ciclo da própria vida.

Jesus ao curar um cego, provavelmente estava em momento de calmaria.

Mas ao expulsar os vendilhões do templo, provavelmente estava em momento de agitação.

No primeiro momento tocava uma tranqüila música clássica.

No segundo momento ouvia-se um rock bem enérgico.

Os dois ritmos são extremamente importantes para a vida.

Querer que só haja um é transformar o ciclo da vida em algo não renovável. Em algo estagnado. Em algo que não evolui. Em algo, por fim, ENFADONHO.

Se prestarmos atenção, por exemplo, em uma palestra de Divaldo Franco, perceberemos que ele se utiliza de vários ritmos... Ele começa num ritmo tranqüilo, voz mansa, relatando algum causo histórico. Daqui a pouco, ele eleva a voz, se agita, gesticula com as mãos, chega a gritar... Novamente, volta a um ritmo mais lento... E prossegue com sua palestra sempre com altos e baixos na linha do ritmo...

É um artista espírita! Um artista da oratória, que sabe utilizar todos os ritmos e entonações nos momentos certos!

Já pensou se disséssemos a ele: "Divaldo, você não pode utilizar um ritmo mais agitado em sua palestra, porque a agitação é coisa grotesca, inferior. Se fizer isso, a sua palestra deixa de ser uma palestra espírita! Você deve seguir sempre em um ritmo lento, sem nunca alterar a voz ou a entonação!"

Valha-me, Deus!

Bom, seguirei dizendo por longos anos: o que caracteriza a arte espírita não é a forma, mas sim o conteúdo. Não é a língua que você fala, a cor da camisa que você veste ou o ritmo que você escuta. É, simplesmente, a mensagem que você transmite.

Enquanto tiver um que diga “música espírita só é no ritmo A”, haverá um adolescente fazendo música espírita nos ritmos B a Z ” só pra contrariar. E graças a Deus!

São os Paulos de Tarso contemporâneos: apóstolos dos gentios, dos rockeiros, dos funkeiros, dos pagodeiros, dos sambistas... e por aí vai...

Deus não abandona ninguém!

Façamos, pois, arte espírita em todas as cores, ritmos e estilos!

E saibamos utilizar cada coisa no momento certo.

Clésio Tapety